quarta-feira, 30 de abril de 2008

"A história da minha vida" por Homem Bronha

Eu poderia estar em um lugar bem melhor agora, sabe? É uma puta de uma escrotice deixarem a gente apodrecer nesses cubículos. Não sei porque pirocas chamam isso de escritório, porra. Tem uma mesa e um monitor quebrado uma porrada de papéis em cima da mesa e eu, sentado. Não sei quantas vezes já bati a cabeça na parede daqui de tão pequena que essa birosca é. Já tomei muitos esporros também. Tô meio que fodido, sabe? Só to aqui porque meu tio é tipo assim o dono desse lugar. E ele também já ta perdendo a fé.

Eu nasci até que bonitinho, uma porrinha adorável mesmo, não sei como. Meu pai era um doente miserável, depois que ele morreu meu tio catou a minha mãe e nasceu meu irmão-primo. Prirmão. Sei lá. É uma coisa confusa pra caralho, mas foda-se porque eu nem falo com ele mesmo. Fica lá jogando videogame o dia todo o capetinha. Deixa ele, depois ele se fode sozinho e eu que vou rir. Bem, se eu continuar assim não vou rir não. Nem sei se vou estar lá pra ver aquele merdinha crescer.

Aí a minha mãe só deu atenção praquele projeto de gente, não que eu fosse grande coisa, mas com certeza eu era melhor que ele. Mas é outra geração, deixa quieto. Esses idiotas acreditam em palhaços de peruca vermelha e se envenenam, o que que eu posso fazer? Nada. E é isso que eu venho fazendo esse tempo todo, não trampo, não como, não estudo, não trepo, não faço porra nenhuma. É bem deprimente quando se para pra pensar. Ah, mas quem pensa?

Na escola eu até que não era mau garoto não. Só me revoltei quando um menino derrubou a minha bandeja na cantina, dei um chute no saco e uma dedada no olho dele. Antes fosse em outro lugar. Suspensão de três dias, minha mãe tava pouco se fodendo, então foi adiantamento de férias. Acho que todo mundo sempre facilitou as coisas pra mim. Me guiaram para o caminho da vagabundagem.

Fui expulso da escola depois de um tempo, fui parar numa escola de freiras decidi ser legal com elas. Mas não dava. Só de pensar que aquelas velhas sangravam todo mês daquelas bocetas pelancudas me fazia rir. Não dava pra levar a sério esse papo de Jesus, Maria e tal. Nunca deu, não colou. Aqueles padres também eram uns grandes idiotas, não que eles fossem pederastas nem nada, mas até que eu queria que fossem, só pra eu ter um motivo legalizado para chutar as bolas daqueles viados. Mas essa época passou rápido, descobri que era indolor e eficiente matar aulas. Daí eu fiz meus grandes amigos.

Foi por pouco tempo também. Tudo foi e está sendo por pouco tempo. Peguei algumas garotas quando tava com aqueles vagabundos, mas nada mais. Saíamos pra beber e tal, mas nunca conversamos. Nessa época eu lembro que eu tava querendo me apaixonar. E aconteceu, cara.

Era uma putinha adorável que morava ao lado, só passei a reparar depois da minha primeira foda. Eu não era um grande punheteiro sardento antes não, só depois que larguei a escola. Sempre que eu via a garota ia lá socar uma bronha. Eu chamava aquilo de amor. Hoje chamo de puta sacanagem, cara. Uma vez roubei um vestido dela e esporrei o troço todo, deixei na porta de casa dela, tinha que ver a algazarra que deu. E eu ri da desgraça na piranha, os pais já estavam desconfiando que ela dava pra meio mundo, um pouco de esperma não seria tão traumatizante. Não fiquei com pena, ri até chorar daquela garota, e descobri que era um sádico. Um filhinho da puta sádico.

Acho que depois dela nunca mais senti que nenhuma garota era especial, sabe? Pra mim nenhuma é, são todas iguais. Elas querem ser iguais, no fim das contas. Senão não liam uma porra duma revista pra ficar igual às amigas, e isso tudo pra quê? Pra dar pra caras que tão cagando e andando, literalmente. Voltam pra casa e põem o pijaminha, são crianças. Mas fazer o quê, as mais velhas comíveis tão na onda do dinheiro. Deixa elas.

Meu chefe vem vindo.

[homem bronha agora está offline]

2 comentários:

Luis disse...

"Sempre que eu via a garota ia lá socar uma bronha. Eu chamava aquilo de amor."

"Não fiquei com pena, ri até chorar daquela garota, e descobri que era um sádico. Um filhinho da puta sádico."


Clássicos abacatônicos.

Pequenas Coisas disse...

Gostei do texto. Dá vontade de reler 'catcher in the rye'.