quarta-feira, 9 de julho de 2008

Eu lembro bem da primeira vez que a realidade me deu um tapa na cara.

Era uma casa de praia, mais precisamente em Rio das Ostras. A casa era grande, porém simples, com um jardim de cajueiros que tinham galhos que pareciam ter sido feitos pra crianças subirem. Meu pai chegou até a fazer uma espécie de casa na árvore, que consistia em uma tábua de um metro quadrado apoiada nos galhos e um balanço pendurado. Eu e minha prima passávamos o dia lá, catando cajus e balançando uma a outra.O interior da casa não era nada espetacular, mas era grande, e para crianças, espaço para correr importa mais que um bom sofá. A sala tinha um TV da qual não me recordo bem, mas sei que estava apoida em um pequeno móvel cuja porta tinha uma fechadura bem pequenininha mesmo.

Pois então, como toda criança fantasiosa, eu e minha prima cismamos que o móvel era mágico. E iríamos provar. Colocamos uns paninhos coloridos dentro, junto com nossos bichinhos de brinquedo. Eu tinha um elefante azul e mais um, ela tinha uns três. Todos juntos lá dentro, trancamos aquele móvel com farelos causados por cupins dentro, e esperamos. Tudo o que nos separava daquele mundo mágico era uma portinha e uma fechadura bem pequenininha mesmo.

Começamos a falar e devanear sobre o que estava acontecendo lá dentro. Era como se estivéssemos vendo o recheio de bolinhas de isopor se tornarem carne e ossos, os dentes de algodão do meu elefante se tornarem de marfim, e todos começarem a rugir, gritar, mugir. Encostamos nosso ouvido na portinha. Com uma fechadura bem pequenininha mesmo, e a chave na minha mão.

Imaginamos que estavam começando a ficar com medo da escuridão, e que estivessem brigando por um cantinho naquele espaço abafado. Ficamos com pena, e abrimos a portinha.

E lá estavam os cinco bichinhos, do jeito que deixamos lá, exatamente iguais. Decepção. E se eles voltaram a ficar assim porque sabiam que iríamos vê-los? Talvez não. Nós sabíamos que nada iria acontecer, mas ao mesmo tempo, esperávamos que sim, tanto que acabamos acreditando.
Lembro que deixamos os bichinhos de lado e fomos tentar catar cajus em galhos mais altos. Pelo o menos se pode fazer suco com eles.

Um comentário:

Arthur disse...

Vc já leu o livro da Jill Bolte Taylor? Chama-se 'A Cientista que Curou o Próprio Cérebro'. É muito bom, e trata desse assunto.